Abarcarei o mundo com onomatopeias? Vou escrever um poema em grunhidos, como de hominídeos das cavernas, sentados sem linguagem junto a um fogo. É preciso buscar uma verdade profunda nos rabiscos rupestres. Uma verdade dura como as canelas dessas velhas ridículas que consomem doses de religiosidade e vão pesadas soltando condenações bíblicas nos rincões da […]
Kategorio: Poema
Voei sobre a amplidão da humanidade e vi você sentado numa varanda. Fumo, fumaça e fogo. Havia um olho arregalado no alto do céu. Senti cheiro de coisa queimada. Eram doze horas nos relógios de um milhão de pessoas. Vi um milhão de humanos pensarem coisas semelhantes. O que você pensava? Voei sobre uma multidão […]
Tenho uma bomba atômica no quintal. Eu mesmo plantei e reguei. É tão bonitinha. Eu disse pra ela: cresce, minha menininha. Um dia você consegue despedaçar um milhão de humanos. Ela sorriu com satisfação. Sabe que confio nela.
Tenho uma bomba atômica no quintal. Eu mesmo plantei e reguei. É tão bonitinha. Eu disse pra ela: cresce, minha menininha. Um dia você consegue despedaçar um milhão de humanos. Ela sorriu com satisfação. Sabe que confio nela.
Vou dormir. E só acordo quando todos tiverem morrido. Serei o único vivente deste planeta. No meu egoísmo sem proporções, substituirei o nome do planeta pelo meu. Colocarei uma placa na porta da frente: proibida a entrada de alienígenas e seres com pretensões divinas. Neste mundo eu serei deus. Ao bater de minhas palmas, os […]
Tem um cabelo nesse poema e um poema nessa sopa. Vou devorar a sopa até me engasgar. Um cabelo duro como arame. E o significado? Estava na sopa. Era um cabelo ou um maço? Morreu entalado tentando engolir o mundo. Meu filho, ninguém deve tentar mastigar água. Os dentes se batem e se quebram. Pior […]
Tenho duas mãos de carne. Se fossem de metal, poderia eu quebrar as correntes que prendem e tolhem o progresso humano? Ou pelos menos o nosso progresso? Para que pela soma de nossos pequenos progressos, o progresso maior se realizasse. Minhas duas mãos têm sangue. Que seja o meu sangue! pois há mãos que têm […]
Vocês sabem. Eu sei. Quem não sabe ainda? É melhor contar pra ela também. Se eu tivesse um gato falante, eu te emprestava. Mas meu gato é mudo. Sisudo no canto, ele nos olha. Parece que agora vai dizer alguma coisa. Vocês sabem que esse gato não fala. Eu também sei. Já disseram até pra ela. […]
Tem um número no meio do universo. Parece que cresce. Parece que decresce. Eu não sei. Não me disseram. Sinto que devia saber. Deviam ter me contado. E agora? Talvez indique a quantidade dos que existiram. Ou dos que existirão. É um número órfão de sentido. Foi órfão no segundo que passou. Temo que já […]
Tem um caixão na sala. E um corpo também. Dizem que o nome é Zamenhof. Quem foi esse alguém? Dente de gente morta, lábio de gente morta, bochecha de gente morta. Mas a língua morreu? Arrancaram o membro que falava e colocaram num frasco com formol. Pode uma língua pronunciar sozinha a letra ‘p’ de […]
Neste vídeo apresento o poema La Espero. Reescrevo em ordem direta e faço uma tradução literal, não poética. —— En ĉi tiu video mi prezentas la poemon La Espero. Mi reskribas ĝin en rekta frazordo kaj plenumas laŭliteran, nepoezian tradukon.
Este poema podia ser até uma língua lambendo um jacaré. Um planeta embalado em folhas de jornal. Padres com dreadlocks e camisas de caveira. Pirarucus de salto alto, vestidos em rosa pink. Por que não sorvete de tartaruga e doce de almôndegas? Podia ser uma mulher com dez pernas e um menino com dois olhos […]
Desconfio que o verso perdeu o nexo. Há paredes moles subindo pelas escadas. E o que isso quer dizer? Nada. Sinto que braços sem ventres e ventres sem cabeças pendem pesados de árvores, num pomar com pés de caju e olhos-d’água. Tenho uma impressão muito forte, forte como um dedo numa identidade; uma impressão que […]
Perguntei a um homem o que era o Direito. Ele me respondeu que era a garantia do exercício da possibilidade. Comi-o. Oswaldo de Andrade